Burrisse é como o mau hálito: se sofres de um dos problemas não abras a boca.
- Tuguinho
E cá estão, finalmente, as respostas dadas pelos Diabo na Cruz a todas as perguntas feitas pelos leitores nesta semana.
Aqui fica então a entrevista. Podem ler respostas muito interessantes!
P Qual foi o concerto que mais gostaram de dar e porquê? (ORiOn)
RFelizmente, temos tido a sorte de vivenciar uma boa quantidade de concertos em que os astros se alinham para que algo de especial aconteça. Alguns dos pontos mais marcantes foram os festivais: MED Loulé, Sudoeste, Noites Ritual e Festa do Avante, por exemplo. De qualquer modo, eu escolheria o concerto no Vila Flor, em Guimarães (Fevereiro de 2010). Era apenas a 4ª vez que estávamos juntos num palco mas tornou-se o dia em que percebemos de que seria feito o nosso futuro mais próximo.. No fim, lembro-me de ter caminhado sozinho pelas ruas de Guimarães com um copo de whisky na mão a pensar na vida. Foi um momento muito emocional. Tinha trabalhado 18 anos para chegar ali.
P Porquê o nome Diabo na Cruz? (ORiOn)
RO nome surgiu da necessidade de abrir uma conta no myspace para as minhas canções trad/acústicas. Queria que fosse um pseudónimo, lembro-me que a primeira hipótese era João Alguidar mas entretanto o meu amigo Daniel avançou com o seu pseudónimo João Coração e eu decidi-me por um nome que tivesse alguma relação com o meu apelido. O Álvaro Costa um dia tinha-me dito que eu deveria apresentar-me apenas como Cruz e eu pensei: Cruz não, Diabo na Cruz!
P Podem oferecer-me um bilhete para vos ir ver ao enterro da gata em Braga? 😀 (No bons sons foi altamente) (João Simões)
RPoder acho que até podemos, não sei é se vamos a tempo… Envia o teu nome completo para diabonacruz@gmail.com e já se vê.
(Infelizmente não vão mesmo a tempo, peço imensas desculpas ao João! 🙁 )
P Quais são as suas referencias musicais portuguesas principais? (Giorgio)
RDiria que o Diabo na Cruz se inscreve numa linhagem que nasce do José Afonso, avança com o Sérgio Godinho, o Fausto, o José Mário Branco e o Vitorino, tem um parente erudito na Banda do Casaco, dois parentes pop: Trovante e António Variações e 3 brilhantes renovadores contemporâneos: Janita Salomé, Amélia Muge e Gaiteiros de Lisboa.
P Para quando uma versão de O Pequeno Aquiles? (Joana Martinho)
REstá terminado um disco de regravações de temas d’O pequeno Aquiles e dos Superego que produzi em colaboração com o B Fachada e onde participam todos os outros Diabos. Deverá sair lá para Setembro.
P Qual foi o sentimento geral da banda no Arraial da IST para terem tido aquela reacção no final do concerto? Se fosse hoje, voltariam a fazê-lo? (Tiago A.)
RFoi um daqueles momentos em que sentimos que não podem brincar com o nosso trabalho. Estávamos à frente de duas mil pessoas e ouvíamo-las entoar os nossos riffs e cantar as nossas letras quando nos cortaram o som de repente. O problema começou logo no soundcheck. Fomos informados de uma troca de alinhamento que nos colocava como última banda, alegadamente por fazermos música tradicional e portanto menos ruído. Alertámos para o erro que estava a ser cometido mas não nos recusámos a fechar a noite sob a condição de nos permitirem fazer o espectáculo de início ao fim sem restrições de nenhuma espécie. A organização aceitou mas pelos vistos ignorava não só o poder do Roque Popular Português como os decibéis de centenas de pessoas que conheciam as músicas de cor. Decidiram fazer o corte e nós respondemos com uma fúria imponderada mas legítima. Se fosse hoje, não sei se repetiríamos tudo da mesma maneira mas não guardamos vergonha por defendermos a seriedade do nosso trabalho em qualquer circunstância. No fundo, podemos sintetizar o nosso sentimento assim: quem decide quando termina um concerto do Diabo é o Diabo porque só o Diabo sabe quando a sua tarefa de rockar uma casa está cumprida.
P Qual é a musica que vos dá mais gozo tocar nos concertos? (Tiago A.)
RAcho que o Bom Tempo é um patinho feio no nosso reportório que depois se revela bem feliz em concertos, nunca damos nada por ele mas chega a ser o momento alto de muitas noites. O Tão Lindo é sempre bom de tocar, assim como Os Loucos, talvez por serem das músicas mais representativas do nosso propósito. De qualquer forma, a minha escolha é Eito Fora/Macaco de Imitação: é muito difícil fugir-lhes como início de concerto. Têm um tempo próprio, acolhem-nos, acalmam aquela adrenalina inicial e relembram o que estamos ali para fazer.
P Para quando o novo cd? (Isabel)
RVamos ser optimistas e esperar que esteja tudo pronto para sair no início de 2012. O plano é compor até Setembro, depois fazermos umas residências criativas longe da cidade e com sorte gravarmos no fim do ano.
P Assisti ao vosso concerto em Famalicão (12.04.2011), foi o primeiro a que assisti; brindaram-nos com 1 entusiasmante hora de muito boa música, mas soube a pouco, principalmente, porque não interagiram quase nada com o público… É hábito vosso ou naquela noite não estavam para aí virados? Não é que isso faça com que o vosso trabalho não seja bem executado, mas seria interessante se puxassem mais pelo público. Obrigada. (Isabel)
RTens toda a razão, Isabel. Julgo que qualquer pessoa que tenha visto outros concertos nossos te dirá que puxar e comungar com o público não é coisa que nos falte. Em Famalicão, houve diversos factores que tornaram o concerto algo mais ameno do que é costume. Era o primeiro concerto depois de uma pausa de 4 meses, estávamos a experimentar coisas novas, nomeadamente novos elementos na equipa. De certo modo, estávamos ainda à procura de nós próprios. Entretanto, acho que já estamos encontrados. Volta a aparecer e pode ser que encontres a festa plena que todas as noites procuramos!
P Quando regressam ao Porto? 😀 (Catarina)
RQueremos regressar ao Porto o quanto antes. A verdade é que ainda não tivemos convites para o Porto este ano e em 2011 não planeamos fazer concertos produzidos por nós próprios, caso contrário o Porto seria uma grande prioridade. Vivi no Porto 13 anos e aí sinto-me em casa como em nenhum outro sítio. De qualquer modo, este ano vamos estar em lugares que faltavam no nosso currículo como Coimbra, Braga, Évora ou Açores. Em breve, teremos tocado em todos os cantos deste belo país e a eles poderemos sempre regressar.
P Como surgiu a ideia de reunir músicos tão bons numa só banda? (Tiago Miranda)
RNunca foi um objectivo formar um grupo com ares de super-banda a verdade é que cada um dos que se foram juntando pareceu a melhor solução para aquilo que se pretendia dentro do nosso círculo de conhecimentos. Primeiro vieram o João Pinheiro e o Bernardo Barata porque vi-os imediatamente como uma secção rítmica infalível na atitude e com afinidades evidentes com as intenções que tinha na mesa. A vinda do B Fachada e do João Gil aconteceu mais tarde, foi ponderada com base naquilo que faltava à sonoridade do grupo e solidificada com o entusiasmo e inventividade que acrescentaram às ideias que já tínhamos começado a desenvolver.
P E como decidiram tomar este percurso de “rock tradicional” musical depois de um passado diferente? (Tiago Miranda)
REsse projecto de rock tradicional começou algures no ano 2000, ainda com os Superego. Teve uma outra face entre 2002 e 2003 com a FanfarraMotor onde tocavam ainda o João Coração, o Nuno Encarnação (Mú, Homens da Luta) e o Nuno Reis (CoolHipnoise) e foi retomado em 2008 depois de ter produzido o primeiro disco d’Os Golpes e de colaborar regularmente com toda a malta da FlorCaveira. De um momento para o outro, apercebi-me de que tinha de regressar à origem para seguir em frente e tratei de pôr em prática num só projecto ideias que foram assentando ao longo de uma década.
P Para quando um novo concerto em Leiria? E ja agora, para quando um novo album? (Diogo Mota)
RLeiria, uma das capitais de distrito dessa curiosa região onde nasci, a Beira Litoral. O ano passado demos aí um bom concerto no Teatro José Lúcio da Silva. Vamos andar por aí perto este ano. Mas talvez só em 2012 voltemos ao centro da cidade. Já agora, aquele estádio ao pé do Castelo? Admite-se?
P Têm hipótese de apagar do registo musical português 3 bandas/músicos e editar outras três. Quais seriam as vossas escolhas? (Joana)
RRelembrando que estas respostas são pessoais e de minha exclusiva responsabilidade escolheria apagar o Manel Cruz, o Samuel Úria e o B Fachada por fazerem concorrência desleal ao serem tão bons. Quando passasse a inveja, escolheria editá-los também, como é evidente. São os meus escritores de canções portugueses favoritos dos últimos 20 anos.
Podem encontrar os diabos na cruz pelos seguintes caminhos:
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Um muito obrigado ao Jorge por esta magnifica entrevista e um grande obrigado especial a todos os leitores que deixaram as suas pergunta! Obrigado!
Como diz o Bruno, excelente entrevista
Excelente entrevista 🙂